A VI Jornada Catarinense da Mulher Advogada inicia nesta quinta-feira (5), em Joinville, com uma programação repleta de grandes nomes do cenário da advocacia e do empoderamento feminino. Uma de suas palestrantes, a juíza Quitéria Tamanini Péres, vai falar sobre a habilidade pacificadora da mulher advogada. Confira abaixo a entrevista que concedeu à equipe de comunicação da OAB/SC:
OAB/SC: Dentro da sua atuação enquanto juíza de direito, como você enxerga a situação das mulheres nesta área?
Quitéria Péres: Indistintamente, todos nós, operadores do Direito, lidamos com o conflito humano. Sob tal aspecto, consideradas as habilidades necessárias ao enfrentamento de tal desafio, percebo que as mulheres estão ocupando espaços cada vez mais privilegiados tanto pelo que são, como pelo que sabem, mas principalmente pelo que sabem fazer em prol da melhor solução ao caso concreto. Refiro-me não propriamente a cargos que invoquem status profissional (embora também isso esteja ocorrendo em proporção cada vez maior), mas sim a espaços de confiança e credibilidade por parte das pessoas e também das instituições. Este resultado decorre tanto da dedicação e comprometimento com que as profissionais mulheres abraçam seus desafios, como das habilidades que buscam desenvolver em prol do seu constante aperfeiçoamento, especialmente no âmbito das relações humanas.
OAB/SC: Quais são os maiores desafios da sua área de atuação?
Quitéria Péres: Em minha área de atuação (magistratura), o principal desafio é conciliar a expressiva quantidade do serviço forense ao cotidiano pessoal e familiar, por serem, todos, focos de grandes reivindicações (ora de estudo, ora de reflexão e/ou atenção, etc). Reconheço, contudo, que este desafio é inerente à atuação profissional da mulher, independentemente da carreira escolhida. Importa notar que o volume de demandas que chegam ao Poder Judiciário diariamente é imensamente maior que as forças humanas da autoridade (juiz) que pretender resolvê-las por meio da prolação de uma sentença impositiva (solução adjudicada). Diferente será tal cenário se todos exercermos atento e consciente discernimento quanto à busca da solução mais adequada ao conflito analisado, priorizando-se as vias não adversariais para que, tão somente depois de esgotadas, seja conferida à sentença a derradeira expectativa de equacionamento.Falamos, portanto, justamente sobre a construção de uma nova cultura, marcantemente mais pacificadora, cujo primeiro pilar reside na própria forma com que nos posicionamos a respeito.
OAB/SC: De onde vem essa “habilidade pacificadora da mulher advogada”?
Quitéria Péres: A habilidade pacificadora da mulher advogada está em sua natural sensibilidade para observar o conflito, a qual se reflete na postura consciente então adotada em prol da busca da solução mais adequada, respeitada a ação do tempo para que também ele seja o mais propício. Afinal, a própria natureza nos ensina todos os dias que há um modo e um tempo apropriado para as coisas. Tempo para nascer e para florescer, também para perdoar e para recomeçar. É bem provável que a experiência vivenciada pelas nossas ancestrais, consideradas desde a mais longínqua cadeia de parentalidade, muito tenha contribuído para o delineamento desta percepção, não raras vezes confundida com mera intuição. A meu ver, é muito mais que isso.